NO CURSO DO RIO
Foram quatro meses de uma expedição iniciada na
nascente do rio, no sertão dos Inhamuns, a partir do encontro com os
rios Trici, Carrapateiras e Favela. Seu "marco zero" está na comunidade
Barra da Sociedade, a 8 Km de Tauá. As boas surpresas e imagens começam
daí. "Encontramos os primeiros vestígios da presença de nossos
antepassados: inscrições rupestres nos afloramentos rochosos, fragmentos
de dente de um mastodonte, peças de uma preguiça gigante, artefatos de
povos indígenas que pesquisadores afirmam ser dos períodos da pedra
polida e da pedra lascada", revela.
Do sertão ao mar, o Jaguaribe cruza serras,
chapadões, cabeceiras e diferentes paisagens, atravessadas pela
fotógrafa com suas lentes. Carnaúbas, pés de oiticicas, jucás. Mulheres
lavando roupas nas pedras, carroças transportando água, jumentos bebendo
água nos canais da irrigação. "São imagens de um cotidiano se movendo
ao redor de um rio gigante", decifra.
Mas nem tudo é encantadoramente exuberante no
entorno do "rio das onças", na tradução tupi-guarani. No decorrer dos
séculos, conforme expõe a fotógrafa, o gigante vem assistindo à
destruição de suas margens e, como consequência, à fragmentação do seu
espaço.
CURADORIA
Das mais de 2.000 fotografias, 120 estão presentes
no livro, após o cuidadoso trabalho de curadoria realizado pelas
pesquisadoras Ângela Magalhães e Nadja Fonsêca Peregrino, do Rio de
Janeiro, responsáveis também pela coordenação editorial. Elas assinam no
livro o texto "Tempos em suspensão". "Sheila Oliveira é uma idealista.
Seu trabalho se pauta pelo registro de questões ligadas ao meio
ambiente", dizem no início do texto.
Sobre Rio Jaguaribe escrevem:
"Aqui ele ganha uma abordagem documental e onírica, que ressalta a
dimensão do visível e do subjacente - daquilo que a autora intui como
uma complexa relação do homem com o seu habitat. Estas fotografias são,
portanto, singulares e portadoras de múltiplas significações. Nada é
menosprezado". Mais adiante revelam: "Mas para além de tudo que é
mostrado, é importante qualificar o gesto de Sheila Oliveira, que será
mais bem compreendido através da perspectiva ética e filosófica que
perpassa o seu trabalho".
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