sábado, 17 de março de 2018

NO CURSO DO RIO
Foram quatro meses de uma expedição iniciada na nascente do rio, no sertão dos Inhamuns, a partir do encontro com os rios Trici, Carrapateiras e Favela. Seu "marco zero" está na comunidade Barra da Sociedade, a 8 Km de Tauá. As boas surpresas e imagens começam daí. "Encontramos os primeiros vestígios da presença de nossos antepassados: inscrições rupestres nos afloramentos rochosos, fragmentos de dente de um mastodonte, peças de uma preguiça gigante, artefatos de povos indígenas que pesquisadores afirmam ser dos períodos da pedra polida e da pedra lascada", revela.
Do sertão ao mar, o Jaguaribe cruza serras, chapadões, cabeceiras e diferentes paisagens, atravessadas pela fotógrafa com suas lentes. Carnaúbas, pés de oiticicas, jucás. Mulheres lavando roupas nas pedras, carroças transportando água, jumentos bebendo água nos canais da irrigação. "São imagens de um cotidiano se movendo ao redor de um rio gigante", decifra.
Mas nem tudo é encantadoramente exuberante no entorno do "rio das onças", na tradução tupi-guarani. No decorrer dos séculos, conforme expõe a fotógrafa, o gigante vem assistindo à destruição de suas margens e, como consequência, à fragmentação do seu espaço.
CURADORIA
Das mais de 2.000 fotografias, 120 estão presentes no livro, após o cuidadoso trabalho de curadoria realizado pelas pesquisadoras Ângela Magalhães e Nadja Fonsêca Peregrino, do Rio de Janeiro, responsáveis também pela coordenação editorial. Elas assinam no livro o texto "Tempos em suspensão". "Sheila Oliveira é uma idealista. Seu trabalho se pauta pelo registro  de questões ligadas ao meio ambiente", dizem no início do texto.
Sobre Rio Jaguaribe escrevem: "Aqui ele ganha uma abordagem documental e onírica, que ressalta a dimensão do visível e do subjacente - daquilo que a autora intui como uma complexa relação do homem com o seu habitat. Estas fotografias são, portanto, singulares e portadoras de múltiplas significações. Nada é menosprezado". Mais adiante revelam: "Mas para além de tudo que é mostrado, é importante qualificar o gesto de Sheila Oliveira, que será mais bem compreendido através da perspectiva ética e filosófica que perpassa o seu trabalho".

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